Banana

A musa da Pedra Branca

Em uma recente roda de conversa, a agricultora Madalena Gomes afirmou: “Foi a banana que possibilitou a nossa sobrevivência”. E, não é que a Embrapa concorda com ela? Uma pesquisadora afirmou que essa cultura tipicamente tropical é um alimento básico para muitos povos. Sendo, portanto um dos alimentos mais comercializados no mundo. De acordo com essa posição mundial, a banana tem uma grande importância no sistema agroalimentar do Sertão Carioca.

A bananeira tem o nome científico de Musa spp. Seu sabor parece fazer juz a sua nomenclatura botânica. é considerada pela nutrição como fonte de xxx. O centro de origem da banana é o sul da Ásia. Não é brasileira portanto. Apesar disso parece que se adaptou muito bem por aqui alimentando famílias e avifauna. Diversos cultivares aparecem no mundo. No Maciço da pedra branca podem ser encontradas as chamadas banana prata, banana d’água, banana maçã, ouro e até algumas espécies exóticas como a banana vinagre.

Toda a produção agrícola tradicional no Maciço da Pedra Branca é escoada em um sistema também tradicional de transporte em animais. São formas imortalizadas por Armando Magalhães Correia em sua etnografia. As bananas assim como outras frutas descem de altitudes de até 680 m acima do nível do mar em “cangalhas” e “jacás” até os dias de hoje. Isso faz com que os frutos tenham a sua casca com diversos pontos pretos, dando-lhes uma aparência considerada não-comercial. Acontece que há um valor agregado. Cultivada em regime agroflorestal, a banana é das mais doces dos mercados locais.

Durante várias décadas passadas, com o declínio da agricultura do Sertão Carioca, o cultivo e comercialização de banana por parte de nossa comunidade tradicional foi declinando. O seu principal meio de escoamento da produção eram as feiras livres. Com a chegada da produção de outros estados, em especial do sul de São Paulo, as pequenas bananas locais eram preteridas pelos grandes frutos de outras regiões. Assim o seu preço estava em decadência, desestimulando os produtores.

Recentemente prevaleceu a visão do alimento como item fundamental na vida saudável, ocorreu uma valorização do orgânico, dos mercados curtos ou locais. A aproximação do Circuito Carioca de Agricultura Orgânica com as redes de agroecologia também trouxe a valorização dos produtos da cidade. Acentuaram também a busca da resiliência para os territórios locais. Ou seja, em caso de catástrofes ambientais ou econômicas, os locais precisam se recompor e ter água e alimento é indispensável. Alimento local passa a ser considerado estratégico na soberania alimentar.

Ao lado desses conceitos maiores, o sabor da banana da Pedra Branca prevaleceu e se tornou cada dia mais valorizado. Tive o prazer de assistir um episódio ilustrativo do novo poder dado à nossa Musa. Estávamos na Feira Nacional de Produtos da Reforma Agrária (Fenafra), realizada no Aterro do Flamengo em xx. Um executivo aproximou-se decididamente do estande onde estava a banana local. Sua atitude demonstrava que ele estava ali por conta da banana. Dirigiu-se à nós que estávamos no atendimento, apresentou-se como comprador de uma grande rede de supermercados especializada em atender pessoas de renda superior e anunciou: “Quero essa banana em meu mercado. Soube que é a banana mais doce da cidade. O que eu faço para coloca-la nas minhas prateleiras”. Resultado: os agricultores não se interessaram por acessar esse mercado. O episódio retrata uma nova etapa na comercialização das bananas produzidas localmente.

Apesar de todo esse mérito, a cultura da banana parece conter um paradoxo histórico. Afinal, quem não conhece a expressão “Yes, nós temos banana”? Esse lugar comum repetido em séculos passados se unia a expressão “república das bananas” para dar uma conotação de subdesenvolvimento à um país cuja economia se baseava em produtos agrícolas. Eram ambos enunciados pejorativos. Atualmente, as bananeiras no Maciço da Pedra Branca também têm seus algozes. Afirmam que a bananeira ameaça a biodiversidade da Mata Atlântica.

DIAS, J. do S. A. ; BARRETO, M. C. (Ed.). Aspectos agronômicos, fitopatológicos e socioeconômicos da sigatoka-negra na cultura da bananeira no Estado do Amapá. Macapá: Embrapa Amapá, 2011. 95 p. 1 CD-ROM. ISBN 978-85-61366-14-8