Casa Amarela: no meio do caminho havia uma casa, havia uma casa no meio do caminho

No coração da maior floresta urbana do Brasil, a Casa Amarela se destaca – cultural e historicamente – como marco da paisagem do Sertão Carioca. Conhecida por moradores e agricultores familiares do Maciço da Pedra Branca, a trilha que no início do século XIX era utilizada para o transporte da produção das fazendas e engenhos locais, se adaptou ao tempo e à história, adquirindo novos usos e significados.
Localizada a 648 metros de altitude, é na Casa Amarela que as trilhas de Rio da Prata, de Vargem Grande, de Pau da Fome e de Camorim se encontram. Por sua localização estratégica esta trilha atualmente é utilizada não apenas pelos moradores, mas por trilheiros, caminhantes, excursionistas e ecoturistas que circulam pelo local.
Construída na década de 1920, pelo imigrante italiano Domingos Argenti, para ser sede do sítio Santa Bárbara – o que explica o fato da trilha que dá acesso ao local também ser conhecida como trilha de Santa Bárbara – a Casa Amarela testemunhou diversos ciclos produtivos – cana de açúcar, café, carvão – que, ao longo do tempo, modificaram a paisagem do Maciço da Pedra Branca.
Segundo o atual proprietário, Domingos Leta, após o falecimento de seu avô, a produção de carvão cessou e toda a área do sítio foi replantada. Atualmente o imóvel encontra-se vazio e, parcialmente, abandonado. Por estar localizado no interior do Parque Estadual da Pedra Branca – PEPB – toda e qualquer reforma e/ou derrubada do imóvel é terminantemente proibida.

Hoje a “Trilha da Casa Amarela” figura no mapa de trilhas do PEPB e as equipes que organizam caminhadas destacam que ela se tornou um importante ponto turístico do PEPB.
Não deixa de ser irônico que a Casa Amarela foi consagrada de modo espontâneo e mesmo na contramão das políticas de implantação do PEPB que historicamente buscaram apagar os usos sociais que existiam e existem por ali.
A exceção se deu por ocasião do Projeto Floresta da Pedra Branca para implantação do PEPB (1991-1992). O então secretário de governo e antropólogo Darcy Ribeiro imaginou uma identidade visual para o Parque, pórticos e portões que fizessem alusão às mulas, aos tropeiros de bananas e ao modo de vida da população tradicional que habita o Maciço da Pedra Branca(Fernandez,2011:155)¹. Suas ideias infelizmente não foram adotadas, mas Darcy Ribeiro certamente ficaria feliz se pudesse constatar que o Sertão Carioca ganha novos sentidos e se afirma pouco a pouco na paisagem do PEPB. A Casa Amarela permanece no caminho para lembrar esta história.
¹ FERNANDEZ, A.C.F. Um Rio de florestas. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, 2011, p.141-161.